A escola
regular e a criança com Síndrome de Asperger.
Parte dois
Asperger: dificuldade de compreender a linguagem figurada. |
Quanto à escolarização da criança com Síndrome de
Asperger vamos retomar primeiramente das principais características de quem
sofre com esse transtorno.
Por ser um Transtorno Global do desenvolvimento
(TGD) resultante de uma desordem genética precisam-se compreender as principais
dificuldades que a criança apresenta tanto social como intelectualmente.
Para quem sofre de Asperger a vida é extremamente
lógica. Para o Asperger existe apenas o sim e o não, o preto e o branco, o
claro e o escuro. Assim, os Aspergers apresentam dificuldade, principalmente,
nos seguintes aspectos:
1. Compreender as mensagens
transmitidas por meio da linguagem corporal.
2. Identificar o uso de
coloquialismos, ironia, gírias, sarcasmo e metáforas.
3. Fazer coisas novas, ou passar por
outras experiências.
4. Fazer amigos, conseguir parceiros
para uma relação, podendo passar anos sem se relacionar com ninguém.
5. Lidar com conflitos são incapazes
de entender outros pontos de vista que não seja o dele.
6. Consolar os outros ou fazê-los se
sentirem melhor.
7. Reconhecer sinais de cansaço, não
percebe quando o interlocutor está entediado,
ou desinteressado.
8. Entender seus próprios
sentimentos ou o impacto nos sentimentos
alheios.
9. Se importar com a opinião alheia.
10. Lidar com críticas ou processar
informações de relacionamento.
Asperger - dificuldade de socialização |
Frente a essas dificuldades, ser paciente e esperar
que a “maré baixe”, ou que o “fogo se apague” a criança com Asperger poderá
avançar novamente e se esse avanço for muito lento, pais e escola podem definir
os ciclos de aproveitamento incluindo um exame minucioso de quais fatores
intervenientes se sobressaem em cada ciclo.
Quando a escola se aperfeiçoa previamente os
fatores intervenientes à aprendizagem ficam claros e na grande maioria único,
já que cada criança com Asperger é uma criança e por isso reage
distintamente a cada atividade e as
estratégias poderão ser diferentes.
O aprender a relacionar-se e compreender os
sentimentos dos outros pode levar muitos meses. Isso não deve ser um fator
indicativo da evolução da criança nas primeiras semanas. A criança, por certo,
necessitará de determinado tempo para adequar-se ao novo contexto das rotinas
escolares.
Outro fator importante e necessária relevância é o tempo para que a
criança se adéque ao novo contexto escolar (quando houver troca ou no retorno
das férias) e sua rotina.
A troca de professor pode provocar ansiedade e por
isso a cada ano a escola estipulará estratégias para evitá-las o que não remete
a troca do professor, mas sim preparar a criança com Asperger a para essa
troca.
Entretanto, classe numerosa ou ruidosa deverá ser evitada.
A criança com Asperger responde melhor quando a classe é tranquila, organizada
por uma rotina e com um ambiente estimulante.
Outro aspecto, agora para os pais, é que algumas
crianças respondem melhor a um professor que a outros. Se numa escola regular
isso não deve ser posto como empecilho. O que cabe e a preparação de toda a
escola para a inclusão dessas crianças. Feito isso, o tempo determinará o
progresso e a redução da ansiedade.
O importante é o professor prestar apoio e
oportunizar que as crianças da turma façam seu papel inclusivo.
Quando a criança perceber a empatia entre
professor/aluno essa se estenderá aos demais companheiros. Entretanto se houver
atitude excludente por parte do professor a turma reagirá dessa forma. Por isso
é que o professor deverá receber formação prévia para lidar com as diferentes
situações.
Tem-se observado que algumas crianças com Asperger
têm desenvolvido uma atitude maternal e protetora com relação a algum colega.
Cabe, ao professor principal ou de apoio supervisionar e guiar essas atitudes
para que não se torne superprotetora.
Assim, tanto a escola, quanto o professor no caso
da inclusão em escola regular deverão fazer algumas concessões especiais às
crianças com Asperger.
A primeira é em relação à palestra, apresentações
não planejadas previamente. Não se aconselha a participação da criança com
Asperger.
A segunda é permitir que a criança com Asperger
faça os exames avaliativos em outro momento, ou quando seu estado emocional ou
de tensão já tenham passado.
Desta forma,
quando os pais encontraram uma escola que proporciona os recursos necessários é
importante permanecer nela até o final de sua escolarização. A troca constante
implica não só na troca de colegas, mas na retomada da história escolar da
criança, a busca de estratégias que funcionam ou não em relação à sua
escolarização. Nesse último ressalto a importância do professor monitor que
poderá acompanhar a criança ao longo de sua vida escolar.
Quando a inclusão não for de tempo integral, tanto
a escola como o centro de apoio às crianças com necessidades educacionais,
deverão se reunir frequentemente para avaliar a evolução da aprendizagem, da
socialização.
Outro tópico que não se pode deixar de esclarecer é
quando o aluno passa a frequentar as classes do ensino fundamental nível dois _
do sexto ao nono ano ou o ensino médio. Na escola de educação fundamental um,
ou seja, do primeiro ao quinto ano (anos iniciais) tanto o professor quanto os
alunos compartilham espaços durante um ano letivo o que facilita a socialização
e a acomodação rotineira das crianças principalmente as que têm Asperger,
Na educação fundamental nível dois e no ensino
médio os professores dedicam menos tempo aos alunos e o plano de estudo é mais
rígido, exigente e normalmente os adolescentes são menos tolerantes com os que
não apresentem comportamento comum aos grupos. Sem contar que, nessa idade o
diagnóstico é muito menos identificado, e o adolescente passa a ser classificado simplesmente
como desafiador, intencionalmente desobediente, “teimoso” ou emocionalmente
perturbado.
Para evitar o confronto entre os professores e
colegas, recomenda-se ainda o acompanhamento de um tutor escolar o qual
intermediará no que tange as novas regras, a troca de professores e a dinâmica
da aula.
Durante esse processo os professores passam a
compreender a dinâmica de aprendizagem de quem tem Asperger, suas
peculiaridades, suas ansiedades e o comportamento em classe.
Cabe salientar de, na adolescência o Asperger pode desenvolver transtornos
relacionados à ansiedade, ataques de pânico e o transtorno obsessivo compulsivo
(TOC), e em casos muito raros depressão com tendências suicidas ou episódios de ira intensa acompanhada por
episódios de agressão. Nesses casos o acompanhamento psicológico e psiquiátrico
é indispensável.
Para finalizar, acredito que a correta
escolarização de quem sofre com Asperger deve se embasar numa constante
avaliação das capacidades da criança em se relacionar com o outro, na constante
capacitação dos professores e de um projeto pedagógico capaz de dar conta dessa
demanda dispondo recursos adequados e humanos.
Mediado por essa combinação _família, projeto pedagógico
e escola_ estaremos vislumbrando a oportunidade de melhorar significativamente
as capacidades da criança com Síndrome de Asperger.
Flávia Inês Moroni Bartelli
Professora/psicopedagoga.
Estudar
é o melhor caminho!
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