Medicalização no TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) conflitos e dúvidas.
Tanto as famílias quanto os profissionais envolvidos na educação
(grupos multidisciplinares) desconhecem o tratamento farmacológico para pessoas
com TDAH. Esse desconhecimento por vezes
traz temor sem um motivo presumível.
O melhor caminho é a informação e esta só se conquista com muito
estudo, trabalho em conjunto com diversos profissionais e interesse das
famílias.
O papel do psicopedagogo institucional é, muito além de observar e
orientar as crianças no meio escolar, instruir, orientar e informar aos pais
sobre o prejuízo que o TDAH incorre no aprendente e nos que convivem com ele
para que possam sanar todas as dúvidas que têm.
A neurociência, associada ao tratamento psicoterapêutico, explica muito
claramente como a medicação age no cérebro, mas principalmente o que acontece
no cérebro de quem tem o TDAH indicando assim sua necessidade. O que acontece,
na maioria das vezes, é que ela se torna
a última opção, o com isso um atraso no processo da aprendizagem.
Por assim dizer, sabendo que a causa do TDAH é um problema neurológico
no metabolismo de algumas substâncias cerebrais, mais especificamente nos
neurotransmissores (Dopamina e Noradrenalina) conjuntamente a outras medidas
educativas ou psicológicas a medicalização é aliada no tratamento do TDAH e o efeito
esperado é que estas duas substâncias funcionem melhor conseguindo, assim, um
rápido controle dos sintomas (impulsividade, inquietação, irritabilidade, ...)
Quando recordamos as aulas de ciências no que concerne ao Sistema
Nervoso Central, atentamos à função dos neurônios e que o “pensamento” são
transmitidos através de impulsos elétricos que funcionavam como mensageiros,
nomeados como neurotransmissores.
Então, o que acontece em quem tem o TDAH? O que provoca o TDAH? A
neurociência, atualmente já consegue, através de exames específicos, detectar
que os neurotransmissores de quem tem TDAH tem comprometimento e que esses
“mensageiros” têm dificuldade de ir de Neurônio a Neurônio. Por isso quem sofre com o TDAH têm problemas
com a memória de curto prazo e esquecem facilmente o que estão fazendo; se
distraem com muita facilidade e frequência e portanto não fixam a informação
principal. Então, se um neurotransmissor não leva a informação onde deve essas
se perdem no caminho e, portanto ela não é reconhecida.
A neurociência, quando explicita sobre o TDAH, dita que a medicalização
é utilizada para solucionar esse desencontro entre os neurotransmissores e que
o tratamento funciona. De forma simplista, como um professor que ensina, a
Dopamina e Noradrenalina (responsáveis pelo controle de movimentos, aprendizado, humor, emoções, cognição e memória) indicam o caminho da
informação e que essa deve acontecer quantas vezes necessário, até atingir a
meta solucionando o empecilho da via metabólica cerebral que controla os
sintomas do TDAH como a atenção, a irritabilidade, a hiperatividade e a
impulsividade.
Há dois tipos de medicamentos utilizados no TDAH. Os de curta duração,
os de longa duração (duração contínua). O mais comum e antigo é o Metilfenidato
que atua especificamente sobre a Dopamina. Sua duração é de aproximadamente
quatro horas, mas há os de liberação contínua que podem controlar os sintomas
por um período mais longo.
Outro medicamento utilizado no tratamento do TDAH é Lis dexanfetamina. É
da família das anfetaminas e são utilizadas quando o metilfenidato não traz efeitos
desejados. Há também os de curta e longa duração.
Esses medicamentos vêm demonstrando bons resultados no tratamento do
TDAH a curto e longo prazo ajudando o paciente a controlar os seus sintomas.
Entretanto, como todo tratamento medicamentoso ele é de competência médica
(neurologia e psiquiatria) e tem-se que ter um planejamento para que o paciente
possa ter uma vida o mais normal que possível.
A maneira como se vê o tratamento de quem “sofre” com o TDAH não é vista
da mesma maneira como se vê o tratamento da hipertensão ou da diabetes; isso
porque na grande maioria das vezes ele é visto como um problema educativo, de
metodologia ou comportamental o que deflagra um grande erro, pois a maneira
como o cérebro destes funciona é diferente e quanto antes se detectar e se
iniciar o tratamento melhor.
É importante que se ressalte que as pessoas com TDAH não correm risco
de morte caso não sejam tratadas, como no caso da diabetes e da hipertensão, mas se apresentam diariamente num alto nível
de sofrimento, ansiedade, incompreensão e bulling e o melhor que se pode fazer
é ajudá-los a ser capaz de vencer suas dificuldades através de treinamento,
conscientização e no que concerne à educação um acompanhamento psicopedagógico
constante.
Quanto a medicalização, o fato é que muitas dúvidas acometem alguns
profissionais e aos pais, uma vez que é feita através de antidepressivos,
estimulantes, e até anfetaminas e que o uso destas podem incorrer num grau de
dependência caso utilizados por muito tempo, ou crise de abstinência quando o
tratamento for interrompido aleatoriamente, mas o que não se deve ignorar é que
esses medicamentos têm apenas algumas horas determinadas de atuação no
organismo; só atuam nesse período.
Se a preocupação dos pais e profissionais da área médica está
relacionada com uma crise de abstinência, até o presente momento, não se tem
registro de relatos de pacientes tratados com esse tipo de medicamentos que se
vem correndo atrás do responsável para tomar a medicação, pedindo o remédio continuamente
ou tomando-o descontroladamente.
Entretanto, não se pode desconsiderar que como toda a medicação, podem
se manifestar alguns efeitos colaterais que deverão ser analisados e
acompanhados pelo médico responsável que deverá considerar aos pais sendo o
mais claro possível respondendo-lhes a todas as dúvidas que incorrerem durante
o tratamento e que cada paciente tem o seu tempo de resposta ao tratamento
devido ao equilíbrio da dosagem.
Para concluir, ainda há muitas
dúvidas quanto ao uso de medicamentos para se tratar o TDAH, mas não se pode
ignorar que as pesquisas indicam uma predisposição genética e um atraso na
maturidade cerebral nas áreas que controlam a atenção, a impulsividade, a
irritabilidade e a hiperatividade e que o tratamento medicamentoso acelera a
maturidade cerebral das áreas indicadas, permite o controle dos sintomas
descritos e melhora o desenvolvimento e o aproveitamento escolar.
Nos meus mais de trinta anos de docência houveram muitas mudanças
metodológicas. Houve tempo em que crianças repetiam ou reprovavam inúmeras
vezes num determinado ano escolar até acontecer a evasão. Hoje, muitas são
aprovadas/promovidas sem terem nenhum conhecimento acadêmico e por isso não
descarto que para muitos a medicalização veio agregar sucesso a essas pessoas e
consequentemente tornou-as mais feliz.
Flávia Inês Moroni Bartelli
Psicopedagoga
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