domingo, 28 de fevereiro de 2016

Medicalização no TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) conflitos e dúvidas.

Medicalização no TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) conflitos e dúvidas.


Tanto as famílias quanto os profissionais envolvidos na educação (grupos multidisciplinares) desconhecem o tratamento farmacológico para pessoas com TDAH.  Esse desconhecimento por vezes traz temor sem um motivo presumível.
O melhor caminho é a informação e esta só se conquista com muito estudo, trabalho em conjunto com diversos profissionais e interesse das famílias.
O papel do psicopedagogo institucional é, muito além de observar e orientar as crianças no meio escolar, instruir, orientar e informar aos pais sobre o prejuízo que o TDAH incorre no aprendente e nos que convivem com ele para que possam sanar todas as dúvidas que têm.
A neurociência, associada ao tratamento psicoterapêutico, explica muito claramente como a medicação age no cérebro, mas principalmente o que acontece no cérebro de quem tem o TDAH indicando assim sua necessidade. O que acontece, na maioria das vezes, é que  ela se torna a última opção, o com isso um atraso no processo da aprendizagem. 
Por assim dizer, sabendo que a causa do TDAH é um problema neurológico no metabolismo de algumas substâncias cerebrais, mais especificamente nos neurotransmissores (Dopamina e Noradrenalina) conjuntamente a outras medidas educativas ou psicológicas a medicalização é aliada no tratamento do TDAH e o efeito esperado é que estas duas substâncias funcionem melhor conseguindo, assim, um rápido controle dos sintomas (impulsividade, inquietação, irritabilidade, ...)
Quando recordamos as aulas de ciências no que concerne ao Sistema Nervoso Central, atentamos à função dos neurônios e que o “pensamento” são transmitidos através de impulsos elétricos que funcionavam como mensageiros, nomeados como neurotransmissores.
Então, o que acontece em quem tem o TDAH? O que provoca o TDAH? A neurociência, atualmente já consegue, através de exames específicos, detectar que os neurotransmissores de quem tem TDAH tem comprometimento e que esses “mensageiros” têm dificuldade de ir de Neurônio a Neurônio.  Por isso quem sofre com o TDAH têm problemas com a memória de curto prazo e esquecem facilmente o que estão fazendo; se distraem com muita facilidade e frequência e portanto não fixam a informação principal. Então, se um neurotransmissor não leva a informação onde deve essas se perdem no caminho e, portanto ela não é reconhecida.
A neurociência, quando explicita sobre o TDAH, dita que a medicalização é utilizada para solucionar esse desencontro entre os neurotransmissores e que o tratamento funciona. De forma simplista, como um professor que ensina, a Dopamina e Noradrenalina (responsáveis pelo controle de movimentos, aprendizado, humor, emoções, cognição e memória) indicam o caminho da informação e que essa deve acontecer quantas vezes necessário, até atingir a meta solucionando o empecilho da via metabólica cerebral que controla os sintomas do TDAH como a atenção, a irritabilidade, a hiperatividade e a impulsividade.
Há dois tipos de medicamentos utilizados no TDAH. Os de curta duração, os de longa duração (duração contínua). O mais comum e antigo é o Metilfenidato que atua especificamente sobre a Dopamina. Sua duração é de aproximadamente quatro horas, mas há os de liberação contínua que podem controlar os sintomas por um período mais longo.
Outro medicamento utilizado no tratamento do TDAH é Lis dexanfetamina. É da família das anfetaminas e são utilizadas quando o metilfenidato não traz efeitos desejados. Há também os de curta e longa duração.
Esses medicamentos vêm demonstrando bons resultados no tratamento do TDAH a curto e longo prazo ajudando o paciente a controlar os seus sintomas. Entretanto, como todo tratamento medicamentoso ele é de competência médica (neurologia e psiquiatria) e tem-se que ter um planejamento para que o paciente possa ter uma vida o mais normal que possível.
A maneira como se vê o tratamento de quem “sofre” com o TDAH não é vista da mesma maneira como se vê o tratamento da hipertensão ou da diabetes; isso porque na grande maioria das vezes ele é visto como um problema educativo, de metodologia ou comportamental o que deflagra um grande erro, pois a maneira como o cérebro destes funciona é diferente e quanto antes se detectar e se iniciar o tratamento melhor.
É importante que se ressalte que as pessoas com TDAH não correm risco de morte caso não sejam tratadas, como no caso da diabetes e da hipertensão,  mas se apresentam diariamente num alto nível de sofrimento, ansiedade, incompreensão e bulling e o melhor que se pode fazer é ajudá-los a ser capaz de vencer suas dificuldades através de treinamento, conscientização e no que concerne à educação um acompanhamento psicopedagógico constante.
Quanto a medicalização, o fato é que muitas dúvidas acometem alguns profissionais e aos pais, uma vez que é feita através de antidepressivos, estimulantes, e até anfetaminas e que o uso destas podem incorrer num grau de dependência caso utilizados por muito tempo, ou crise de abstinência quando o tratamento for interrompido aleatoriamente, mas o que não se deve ignorar é que esses medicamentos têm apenas algumas horas determinadas de atuação no organismo; só atuam nesse período.
Se a preocupação dos pais e profissionais da área médica está relacionada com uma crise de abstinência, até o presente momento, não se tem registro de relatos de pacientes tratados com esse tipo de medicamentos que se vem correndo atrás do responsável para tomar a medicação, pedindo o remédio continuamente ou tomando-o descontroladamente.
Entretanto, não se pode desconsiderar que como toda a medicação, podem se manifestar alguns efeitos colaterais que deverão ser analisados e acompanhados pelo médico responsável que deverá considerar aos pais sendo o mais claro possível respondendo-lhes a todas as dúvidas que incorrerem durante o tratamento e que cada paciente tem o seu tempo de resposta ao tratamento devido ao equilíbrio da dosagem.
 Para concluir, ainda há muitas dúvidas quanto ao uso de medicamentos para se tratar o TDAH, mas não se pode ignorar que as pesquisas indicam uma predisposição genética e um atraso na maturidade cerebral nas áreas que controlam a atenção, a impulsividade, a irritabilidade e a hiperatividade e que o tratamento medicamentoso acelera a maturidade cerebral das áreas indicadas, permite o controle dos sintomas descritos e melhora o desenvolvimento e o aproveitamento escolar.
Nos meus mais de trinta anos de docência houveram muitas mudanças metodológicas. Houve tempo em que crianças repetiam ou reprovavam inúmeras vezes num determinado ano escolar até acontecer a evasão. Hoje, muitas são aprovadas/promovidas sem terem nenhum conhecimento acadêmico e por isso não descarto que para muitos a medicalização veio agregar sucesso a essas pessoas e consequentemente tornou-as mais feliz.
Flávia Inês Moroni Bartelli
Psicopedagoga


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