Educando para a vida no século XXI - destaque para a educação emocional
A educação dos filhos é um
assunto que sempre está na pauta do sistema educacional e não só mantém os pais
em constante estado de alerta, mas a escola e toda as instâncias da sociedade.
Espera-se sempre que o amor e a
dedicação que a eles são dedicados os transforme em adultos de sucesso,
responsáveis, conscientes de sua função social.
Entretanto, nosso instinto de
proteção, e digo nosso, pois me incluo nessa categoria de pais, faz com que
desejamos que nada de mal aconteça a eles, que sempre estejam seguros e que
nada os desvie de um futuro promissor e feliz.
Para isso, investe-se tudo o que
que é possível em alimentação, vestuário, saúde e educação. Procuramos
desenvolver suas habilidades ao máximo com atividades extracurriculares,
monitoramos suas amizades e na adolescência seus “amores”. Um trabalho árduo
vinte e quatro horas no dia, trezentos e sessenta e cinco dias no ano,
ininterruptamente.
Entretanto, deixamos escapar
pequenos detalhes que na adultez fará grande diferença. Esquece-se da educação
emocional. Esquece-se de educa-los para que sejam adultos emocionalmente
preparados para as adversidades. A educação emocional hoje é um grande vácuo
tanto na educação de competência dos pais, como nos atuais currículos
escolares.
A educação “das emoções” ocupa um
espaço muito pequeno, quase inexistente na vida atual de nossos filhos e por
isso o “produto” dessa educação, centrada apenas no conhecimento, na
competitividade e na busca do sucesso financeiro acarreta consequências trágicas
para a sua vida. Como consequência, nos
deparamos cada vez mais com adultos incapazes de lidar com suas próprias
emoções, com seus problemas, buscando ajuda nos psicotrópicos.
Hoje a pedagogia e principalmente
a psicopedagogia deve fazer frente a essa desvalia e orientar aos pais e
educadores que o conhecimento é importante, mas que educar as pessoas para que
saibam lidar com suas emoções é uma ferramenta da qual não se pode abrir mão,
pois é por meio dela que teremos adultos mais fortes, capazes de evoluir pelos
conflitos existentes e com futuro mais exitoso, pois estarão preparados para as
adversidades do cotidiano.
Educar uma criança emocionalmente
estável, forte, implica prestar atenção e estar consciente que são elas, as emoções,
que controlam nossas atitudes comportamentais. A indagação que se faz aqui é,
então, como identificar uma criança emocionalmente forte?
Uma criança emocionalmente
estável, forte, é aquela capaz de identificar suas próprias emoções, seus
estados emocionais, e a dos outros. É aquela capaz de perceber que há fatos que
podem afetá-los positivamente ou negativamente, bem como aos outros e
desenvolver atitudes que a conduzam a resolver esses conflitos. E como
conseguir isso?
O que parece simples, e muitas
vezes o é, parte do pressuposto de que os pais ajam como facilitadores, como
mediadores nesse processo. Se é possível traçar um caminho para facilitar esse
desenvolvimento, partimos das seguintes sugestões.
Estimular a competitividade
Primeiramente devo conceituar a
que tipo de competitividade refiro-me. É aquela que nos faz permitir perceber
quando somos capaz de manejar situações de conflito de maneira efetiva. Para isso deve-se ajudar a identificar suas
fortalezas e suas fraquezas. Orientar acerca dos problemas encontrados e da
influência desses para com o próximo. Estimular a tomada de decisões e potencializar
as suas habilidade e a de seus pares para a resolução de conflitos evitando-se
a comparação e, acima de tudo evitar que o instinto de proteção não consinta
que o impeçamos de desenvolverem a capacidade de resolver as situações
adversas.
Estimular a (auto) confiança.
A confiança em si mesmo é a
ferramenta que fundamenta a autoestima. Por isso devemos focar nas qualidades
das crianças e expressá-las de forma clara e simples para que eles também
possam percebê-las em si mesmos. Às suas atitudes exitosas, recompensá-los com
elogios, evitando a recompensa material ou falsas consagrações. Nunca pressione
a criança a ir além de sua capacidade.
Estimular os laços familiares e comunitários
O sentimento de pertencimento (a
um a família ou a uma comunidade) traz segurança, faz com que nos sintamos
queridos, necessários. Para isso devemos propiciar a participação em atividades
de grupo, proporcionar reuniões para tomada de decisões em situações de
conflito. Entretanto não devemos deixar de tratá-los com justiça e cumpra com
suas promessas.
Estimular o desenvolvimento do sentimento de empatia
A empatia é a capacidade de se
pôr no lugar do outro para compreender o que esse está passando. Ressalto que “se
pôr no lugar do outro” não significa sofrer pelo outro, mas refletir sobre a
importância da situação sofrida.
Assim, conversar sobre
sentimentos de forma simples e clara permite que a pessoa entenda que fatos
mudam. Lembrar que não queremos transformar a criança em juízes implacáveis em
seu julgamento, pois agindo assim permitiremos o percebimento de que somos
diferentes e sentimos diferente.
Estimular o autocontrole
O autocontrole pode ser treinado
através de jogos ou brincadeiras de encenação lúdica. Permitir que a criança
use o imaginário e a partir disso criar situações para que ela descreva sobre
seus sentimentos em determinadas situações. Esse tipo de atividade ensina que
as emoções surjam concomitantemente ou isoladamente e que podemos manejar bem com
elas mesmo quando estivermos sozinhos. *
Trabalhar a consciência Global.
Não tem idade para se desenvolver
a consciência global e quanto antes se começa melhor. A bem da verdade não
existe idade para transmitir às crianças que suas ações podem afetar aos
outros, ao planeta pois fazemos parte de uma unidade. Estamos unidos por um
propósito global. Nesse caso é importante centrar as atividades em explicar os
efeitos das ações do homem na natureza, criar o hábito de reciclar e da
importância de manter o planeta saudável. Uma atividade interessante é propor problemas
conflitantes que envolvam atitudes que prejudiquem o meio ambiente e discutir
medidas de resolução de problemas.
Estimular o enfrentamento
O enfrentamento é a capacidade
que desenvolvemos de agir mediante um problema real, buscando soluções. O importante
nessa habilidade é que ela nos ensina a não fugir dos problemas, a enfrentá-los;
valoriza a importância de continuar as lutas sem se importar com o resultado,
pois o que importa é o processo. Quando
a criança é muito pequena pode-se agir como mediador procurando ajuda-lo na (re)solução
de conflitos.
O desapego/ a perda
Compreender que na vida tudo está
em constante mudança, que pertence a um ciclo é importante. Mesmo necessitando
de segurança todos precisamos compreender que tudo que começa tem um final. Por
isso é importante celebrar cada término de uma determinada etapa da vida. O
período da educação infantil (maternal), ensino fundamental, médio deverá ser
celebrado. O ato de celebrar indica que uma etapa da vida se encerra, mas que
outra se inicia.
Há uma tendência muito forte em
nossa sociedade de encobrir das crianças a morte de alguns entes queridos ou
amigos para evitar o sofrimento. Devemos ter consciência de que a morte também
é um ciclo da vida, que ninguém é eterno. Ter um animal de estimação é uma boa
estratégia para que compreendam o desapego ou a perda uma vez que seu ciclo de
vida, normalmente, é mais curto e isso faz com que amadureçam e lidem com a
morte de forma natural e madura.
Abordar esse tema é deveras
conflitante, mas as experiências emocionais acima discorridas são apenas uma
pequena parcela das que a vida nos propõe. Podemos, inclusive atestar a questão
do desemprego. Na adultez nos deparamos com pessoas que perdem o emprego e
fazem disso um ponto final e outras como o recomeço de uma nova etapa.
As experiências emocionais, as
quais somos expostos no decorrer de nossa existência, transformam nossa visão
de mundo e consequentemente nossa conduta frente aos problemas. Proporcionando
que a criança viva todo o tipo de experiência emocional estamos favorecendo que
elas desenvolvam estratégias de lidar com essas emoções e sejam mais capazes de
enfrentar os problemas advindos do ciclo vital.
Muito embora não haja um manual
de como sermos pais perfeitos, reitera-se que a aprendizagem se faz no dia a
dia com a colaboração de todos os que fazem parte de nosso meio, com suas
diferentes opiniões, e que o amor incondicional que os pais nutrem por seus
filhos somados à intuição nos conduzirão ao que esperamos ser o melhor para
eles, mesmo que se erre, porque assim como eles estamos num processo contínuo
de aprendizagem.
Flavia I.M. Bartelli
Psicopedagoga
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*a casa das emoções (jogo)
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