sábado, 17 de setembro de 2016

A escola regular e a criança com Síndrome de Asperger. (Parte²)

A escola regular e a criança com Síndrome de Asperger.
Parte dois

Asperger: dificuldade de compreender a linguagem figurada.
Quanto à escolarização da criança com Síndrome de Asperger vamos retomar primeiramente das principais características de quem sofre com esse transtorno.
Por ser um Transtorno Global do desenvolvimento (TGD) resultante de uma desordem genética precisam-se compreender as principais dificuldades que a criança apresenta tanto social como intelectualmente.
Para quem sofre de Asperger a vida é extremamente lógica. Para o Asperger existe apenas o sim e o não, o preto e o branco, o claro e o escuro. Assim, os Aspergers apresentam dificuldade, principalmente, nos seguintes aspectos:
1.      Compreender as mensagens transmitidas por meio da linguagem corporal.
2.      Identificar o uso de coloquialismos, ironia, gírias, sarcasmo e metáforas.
3.      Fazer coisas novas, ou passar por outras experiências.
4.      Fazer amigos, conseguir parceiros para uma relação, podendo passar anos sem se relacionar com ninguém.
5.      Lidar com conflitos são incapazes de entender outros pontos de vista que não seja o dele.
6.      Consolar os outros ou fazê-los se sentirem melhor.
7.      Reconhecer sinais de cansaço, não percebe quando o interlocutor está entediado,  ou desinteressado.
8.      Entender seus próprios sentimentos  ou o impacto nos sentimentos alheios.
9.      Se importar com a opinião alheia.
10.  Lidar com críticas ou processar informações de relacionamento.
Asperger - dificuldade de socialização
Frente a essas dificuldades, ser paciente e esperar que a “maré baixe”, ou que o “fogo se apague” a criança com Asperger poderá avançar novamente e se esse avanço for muito lento, pais e escola podem definir os ciclos de aproveitamento incluindo um exame minucioso de quais fatores intervenientes se sobressaem em cada ciclo.
Quando a escola se aperfeiçoa previamente os fatores intervenientes à aprendizagem ficam claros e na grande maioria único, já que cada criança com Asperger é uma criança e por isso reage distintamente  a cada atividade e as estratégias poderão ser diferentes.
O aprender a relacionar-se e compreender os sentimentos dos outros pode levar muitos meses. Isso não deve ser um fator indicativo da evolução da criança nas primeiras semanas. A criança, por certo, necessitará de determinado tempo para adequar-se ao novo contexto das rotinas escolares.
Outro fator importante  e necessária relevância é o tempo para que a criança se adéque ao novo contexto escolar (quando houver troca ou no retorno das férias) e sua rotina.
A troca de professor pode provocar ansiedade e por isso a cada ano a escola estipulará estratégias para evitá-las o que não remete a troca do professor, mas sim preparar a criança com Asperger a para essa troca.
Entretanto, classe numerosa ou ruidosa deverá ser evitada. A criança com Asperger responde melhor quando a classe é tranquila, organizada por uma rotina e com um ambiente estimulante.
Outro aspecto, agora para os pais, é que algumas crianças respondem melhor a um professor que a outros. Se numa escola regular isso não deve ser posto como empecilho. O que cabe e a preparação de toda a escola para a inclusão dessas crianças. Feito isso, o tempo determinará o progresso e a redução da ansiedade.
O importante é o professor prestar apoio e oportunizar que as crianças da turma façam seu papel inclusivo.
Quando a criança perceber a empatia entre professor/aluno essa se estenderá aos demais companheiros. Entretanto se houver atitude excludente por parte do professor a turma reagirá dessa forma. Por isso é que o professor deverá receber formação prévia para lidar com as diferentes situações.
Tem-se observado que algumas crianças com Asperger têm desenvolvido uma atitude maternal e protetora com relação a algum colega. Cabe, ao professor principal ou de apoio supervisionar e guiar essas atitudes para que não se torne superprotetora.
Assim, tanto a escola, quanto o professor no caso da inclusão em escola regular deverão fazer algumas concessões especiais às crianças com Asperger.
A primeira é em relação à palestra, apresentações não planejadas previamente. Não se aconselha a participação da criança com Asperger.
A segunda é permitir que a criança com Asperger faça os exames avaliativos em outro momento, ou quando seu estado emocional ou de tensão já tenham passado.
 Desta forma, quando os pais encontraram uma escola que proporciona os recursos necessários é importante permanecer nela até o final de sua escolarização. A troca constante implica não só na troca de colegas, mas na retomada da história escolar da criança, a busca de estratégias que funcionam ou não em relação à sua escolarização. Nesse último ressalto a importância do professor monitor que poderá acompanhar a criança ao longo de sua vida escolar.
Quando a inclusão não for de tempo integral, tanto a escola como o centro de apoio às crianças com necessidades educacionais, deverão se reunir frequentemente para avaliar a evolução da aprendizagem, da socialização.
Outro tópico que não se pode deixar de esclarecer é quando o aluno passa a frequentar as classes do ensino fundamental nível dois _ do sexto ao nono ano ou o ensino médio. Na escola de educação fundamental um, ou seja, do primeiro ao quinto ano (anos iniciais) tanto o professor quanto os alunos compartilham espaços durante um ano letivo o que facilita a socialização e a acomodação rotineira das crianças principalmente as que têm Asperger,
Na educação fundamental nível dois e no ensino médio os professores dedicam menos tempo aos alunos e o plano de estudo é mais rígido, exigente e normalmente os adolescentes são menos tolerantes com os que não apresentem comportamento comum aos grupos. Sem contar que, nessa idade o diagnóstico é muito menos identificado,  e o adolescente passa a ser classificado simplesmente como desafiador, intencionalmente desobediente, “teimoso” ou emocionalmente perturbado.
Para evitar o confronto entre os professores e colegas, recomenda-se ainda o acompanhamento de um tutor escolar o qual intermediará no que tange as novas regras, a troca de professores e a dinâmica da aula.
Durante esse processo os professores passam a compreender a dinâmica de aprendizagem de quem tem Asperger, suas peculiaridades, suas ansiedades e o comportamento em classe.
Cabe salientar de, na adolescência o Asperger pode desenvolver transtornos relacionados à ansiedade, ataques de pânico e o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), e em casos muito raros depressão com tendências suicidas  ou episódios de ira intensa acompanhada por episódios de agressão. Nesses casos o acompanhamento psicológico e psiquiátrico é indispensável.
Para finalizar, acredito que a correta escolarização de quem sofre com Asperger deve se embasar numa constante avaliação das capacidades da criança em se relacionar com o outro, na constante capacitação dos professores e de um projeto pedagógico capaz de dar conta dessa demanda dispondo recursos adequados e humanos.
Mediado por essa combinação _família, projeto pedagógico e escola_ estaremos vislumbrando a oportunidade de melhorar significativamente as capacidades da criança com Síndrome de Asperger.

Flávia Inês Moroni Bartelli
Professora/psicopedagoga.
                               Estudar é o melhor caminho!


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário