Depressão: 3 coisas que se detesta ouvir.
Quem nunca teve que lidar com alguma
pessoa que não conhece sobre determinado contexto e decide discorrer sobre tal.
A depressão, mesmo em pleno
século XXI é a mais rotulada de todas as enfermidades por convencionalismos e
por comentários execráveis como “não é doença, é frescura”; “falta de fé” ou não crê em Deus; medicamento para quê? - o que faltou foi laço,
punição, surra, limites quando criança; e assim continuamente.
Só para auxiliar os que leem meus
parágrafos, muito embora prefira escrever sobre Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) o preconceito contra as pessoas que têm transtornos e
deficiências mentais denomina-se psicofobia o que por sua vez é crime (PLS 236/2012).
Ao longo da história, doentes mentais foram acusados de
feitiçaria ou de serem possuídos por demônios. Nos tempos modernos, com a evolução da psiquiatria e da psicologia, verificou-se que essas pessoas tinham doenças mentais e não demônios ou quaisquer outras elucidações absurdas
já mencionadas. O preconceito contra os portadores de doenças mentais ainda é
muito grande e apenas a informação sobre o assunto pode atenuar o preconceito.
Após uma análise das afirmações
acerca dos rótulos preconceituosos de quem sofre de depressão, encontrei três que
se sobressaem nos discursos conflagrados de quem ignora sobre o tema.
1. “Depressão
é frescura”
Quando se
percebe o falar de alguém que nomeia a depressão como “frescura”, indago-me sobre a lucidez de pensamento e o discernimento
sobre o considerar uma doença como frescura. É mais ou menos como dizer que o
diabético sente muita vontade de comer doce (e não pode) por frescura. Que o
hipertenso não sente o sabor do sal (e
por isso salga seu alimento) já que não pode, por frescura. Porque todos eles _
o depressivo, o diabético, o hipertenso _ simplesmente, gostam de chamar a
atenção.
Quem trata a
depressão como frescura é porque nunca entenderá a verdadeira “dor” que está
por trás dela.
2. “Depressão
é falta de Fé - De crer num determinado Deus”
É mais uma
forma preconceituosa de ver a doença. Afinal ao se apregoar que Deus é amor e criador de todos
os seres, que Deus seria esse que atribui tamanha dor na sua criação? Que se
falaria então de um câncer, de uma paralisia cerebral...
Amar a Deus
não impedirá ninguém de sofrer mais ou menos. De ter doenças ou não. De matar
ou não. Nem sempre a religião poderá resolver problemas em nossas vidas, até porque tem quem
mata em nome e por amor a Deus. Fé é fé. Deus é Deus. E Doença é doença e em
hipótese alguma ela está relacionada à religiosidade de uma pessoa. Até porque
inúmeras pessoas cuja fé é inabalável e mesmo assim são acometidas por doenças,
inclusive a depressão.
3. “Remédio
para quê?”
Quando se fala
da importância do tratamento medicamentoso para a depressão, nos deparamos com
os seguintes comentários. Você precisa do remedinho da alegria? Um para acordar
e um para dormir?
A forma
irônica como algumas pessoas que desconhecem o que realmente seja a depressão como
um quadro clínico é a forma como a tratam.
É certo que
nem toda doença precisa de medicamento, mas toda doença precisa ser tratada.
Então por que seria diverso com a depressão? E afirmo ainda. Às vezes, adjunto
ao medicamento junta-se a psicoterapia, tamanha complexidade.
Então se
percebe o preconceito quando no calor da discussão advém o entusiástico conselho
_ você já tentou se auto controlar?_ numa sugestão inócua de “abandone esse
medicamento”.
Sim. É fato.
Poucos ainda reconhecem a necessidade da utilização de medicamentos para a cura ou controle da depressão. Muitos
ainda vão afirmar que só terapia basta.
Fato também é
que, em alguns casos, o indivíduo consegue superar e lidar bem com a depressão
sem o uso de medicação, mas isso não sugere que ele não seja necessário e fato
é que quem determina isso é o especialista (clínico) e não o amigo que
pressupostamente deveria te acolher como tu és e não como gostaria que fosses.
Flávia Bartelli
Psicopedagoga
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