Lateralidade cruzada parte 2
Caso esteja lendo esse artigo, possivelmente leste a parte um que foi
técnica em demasia, mas imprescindível para compreendermos o que se passa
fisiologicamente em quem tem lateralidade cruzada.
Resumidamente pontuemos alguns tópicos importantes:
·
Nosso cérebro é formado por duas partes simétricas; o hemisfério direito
e o esquerdo unidos por uma linha média
denominada fissura sagital.
·
Cada um dos hemisférios cerebrais é responsável por controlar as funções
do lado contrário de nosso corpo: o movimento, as sensações de frio, calor, a
percepção da dor,...
·
Algumas funções complexas se repartem entre ambos os hemisférios, entre
elas a visão.
·
Na retina (capa neuro sensorial de
nosso olho) existe:
·
Uma parte central, a macula, que percebe
os detalhes e uma parte periférica que nos orienta no espaço e detecta os
movimentos.
·
Se não houvesse mecanismos de controle neurológicos, poderíamos
movimentar cada olho de forma individual como os camaleões. Isso acontece em bebês até os seis meses aproximadamente,
no estrabismo e são denominados pelos oftalmologistas de “ movimentos
desconjugados”.
·
Vimos também que para que os olhos trabalhem conjuntamente é preciso que
um deles decida o que vai centralizar. É o olho dominante.
As informações acima poderão ser encontradas nos sites relacionados.
Entretanto ressalto aqui a importância
da avaliação oftalmológica infantil.
Essa avaliação é de extrema importância, leva cerca de 20 minutos e
proporciona uma quantidade bastante significativa sobre as condições visuais da
criança.
Entre esses testes podemos citar:
·
Cover test – permite comprovar se a criança tem estrabismo;
·
Mobilidade ocular – consiste em observar como se movem os olhos, deixando
a cabeça firme se não há problemas e se os olhos movimentam-se em par e ao
mesmo tempo.
·
Tamanho e retração da pupila – observa o tamanho das pupilas, se são
redondas, se estão dilatadas, se reagem à luz ou a um objeto distante.
·
Agudeza visual mono e binocular – permite saber se a criança vê o que tem
que ver. Os instrumentos são adequados à cada faixa etária.
·
Refração – permite que se detectem problemas de visão como miopia,
hipermetropia ou astigmatismo e a partir desse exame constata-se a necessidade
do uso de lentes corretivas (óculos).
Técnica simples para
identificar olho dominante
Muito mais simples do que
identificar qual o olho dominante é buscar averiguar a própria dominância
ocular. Vamos lá. Responda rápido:
Com que olho enxergas
melhor?
Se já pensaste em um
deles (direito ou esquerdo) seguramente já o descobriste. Mas para corroborar com essa afirmação,
certifique-se por meio deste simples teste. Forme um círculo com suas mãos,
unindo os polegares da direita com o da esquerda, assim como com os indicadores.
Determine um objeto distante e fixe o olhar através desse círculo observando
que o objeto fique bem no centro do círculo.
Após feche o olho esquerdo e repita a operação. Faça o mesmo com o olho
direito num espaço de 10 segundos. O
olho que mantiver a imagem centralizada é o olho dominante. As experiências também
indicam que quem é destro tem no olho direito a dominância e quem é canhoto tem
no olho esquerdo a dominância. Entretanto não é tão simples assim quando se
fala em lateralidade cruzada. Se repetirmos a experiência de forma mais pausada
poderemos notar que:
·
O objeto se move um pouco quando se olha com o olho dominante.
·
Se fixares o olhar em um objeto mais próximo notará menos movimento.
·
Se fixares o olhar em um objeto mais distante notará mais movimentos.
Mesmo assim é importante
a verificação por um especialista (oftalmologista) uma vez que a determinação
da acuidade visual é diferente quando monocular (com um olho tapado) e
binocular (com ambos os olhos abertos).
Apesar de termos
necessário conhecer o aspecto clinico da lateralidade cruzada, o que se tem que
ter é o maior cuidado em relação à mudança da predominância lateral (mais especificamente
à manual), pois isso incorreria em pretender-se modificar a dominância manual e
essa não traria nenhuma garantias de que sua dificuldade de aprendizagem não se
manifestasse; o que se percebe é que uma criança com lateralidade cruzada já
enfrenta inúmeras dificuldades e com a tentativa da mudança teria mais uma,
qual seja a de aprender a escrever com a mão não dominante.
Por isso, que cada vez
mais frequentemente nos deparamos com crianças que têm habilidade ambidestra.
Quais seriam então as prováveis
dificuldades de aprendizagem apresentadas por uma criança que tem lateralidade
cruzada? Entre as mais citadas temos:
·
Dificuldade na leitura (pausada), na escrita (lenta) e na execução de
cálculos.
·
Apresenta dificuldade de atenção e com muita frequência a hiperatividade.
·
Dificuldade de organização espacial e temporal.
·
Dificuldade na decodificação das informações obtidas.
·
Confunde-se muito com relação à lateralidade (esquerda/direita). Compreensão
dos conceitos de dúzia, dezena, centena, cento,...
·
Confundem-se facilmente com os sinais da adição, subtração, multiplicação
e divisão; símbolos de igualdade, maior ou menor bem como as sílabas inversas (sapo
/asno) entre outros tais como ± ≠ ≤ ≥.
·
Apresentam-se desmotivados e uma escassez de interesse para algumas atividades.
·
Compreendem muito melhor as ordens verbais que as escritas. Preferindo com
isso o cálculo mental do que o escrito.
·
Pode apresentar quadros de disgrafia, dislexia, discalculia, e pode
inconscientemente expressar o contrário do que pensa.
·
Inversão de letras e números (espelhados).
·
Incapacidade de concentração numa única tarefa.
·
E, consequentemente pode manifestar inibição, irritabilidade,
desesperança, baixa estima.
Entretanto, quando detectada a
lateralidade cruzada, os pais podem auxiliar a criança com atividades lúdicas para
reforçar a lateralidade, entre elas sugere-se:
- jogo dos sete
erros .
- reconhecer e
nomear as partes do corpo através de brinquedos (montar bonecos e vesti-los)
- reconhecer a
posição de um determinado objeto em relação a outro reforçando as noções de direita,
esquerda, embaixo, encima, atrás, na frente, ...
-lançar e apanhar
objetos, balões, jogar amarelinha.
-brincadeiras
de alternância de mãos. Abrir e fechar
as mãos rapidamente.
-
Tocar cada dedo com o polegar da mão respectiva.
-
Lançar objetos com uma mão e pegar com
outra.
-recortar,
colar, montar,...
-escrever
grupo de palavras que comecem com sílabas de simetria inversa. ( este/sete, anta/nata,...).
-atividades
com os olhos (movimentos para cima, para baixo,; olhar através de um tubo etc.)
-atividades
de cobrir linhas, labirintos, pontilhados numéricos, etc.
Flávia Inês Moroni Bartelli
psicopedagoga
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