Lateralidade Cruzada - parte
1.
A lateralidade cruzada é um inimigo da aprendizagem. Mito ou verdade?
Primeiramente inicio este artigo
explicando que a lateralidade é uma função complexa que deriva da organização
binária do nosso sistema nervoso. De fato, grande parte do nosso corpo
articula-se de forma dupla: dois olhos, dois ouvidos, duas orelhas, dois
pulmões, dois rins, etc. O nosso cérebro também dispõe de duas estruturas
hemisféricas especializadas que são responsáveis por controlar todo o complexo
sistema dual, integrando a diferente informação sensorial, orientando-nos no
espaço e no tempo e, definitivamente, interpretando eficientemente o mundo que
nos rodeia.
Em algumas ocasiões a mão
dominante (a direita) não coincide com o olho dominante (o esquerdo) de uma
pessoa, o que pode provocar problemas de aprendizagem e de desenvolvimento,
sobretudo no que diz respeito à escrita.
Maria Dolores Morillo médica especialista em oftalmologia e por trabalhar
constantemente com crianças com dificuldade de aprendizagem também especializou
em TDAH pela Universidade de Alcalá de Heneres, Espanha tem contribuído muito
com seu trabalho quando aborda sobre a lateralidade cruzada e a influência
dessa na aprendizagem. A partir de seu trabalho, pus-me a pesquisar e
compreender os mitos e as verdades sobre a lateralidade cruzada quando
relacionada às dificuldades de aprendizagem.
Em muitos casos existe de fato a
relação de problemas de aprendizagem relacionados com a visão. Pode-se
encontrar crianças com microestrabismo, miopia, insuficiência de convergência,
entre outros. Não obstante é importante recordar que conjuntamente com esses
problemas podemos ter uma criança com TDAH.
Parafraseando, podemos afirmar
que uma pessoa pode ter um guarda chuva e um guarda sol em casa; assim uma criança
pode ter hipermetropia, insuficiência de
convergência visual e TDAH.
Hoje, especificamente quero tomar
como foco de estudo a lateralidade cruzada como fator interveniente na
aprendizagem.
Na sombra do processo de aprendizagem e porque não das incoerências pedagógicas
foi-se criando um sem fim de explicações para inúmeras situações que dificultam
o dia adia de quem tem lateralidade cruzada. E esta então passa a ser a vilã causadora
do estrabismo, de certos problemas de refração, contraturas musculares,
dificuldades psicomotoras e na carona dificuldades de atenção e hiperatividade.
Para entender com facilidade a lateralidade
cruzada precisa-se repassar alguns conceitos científicos:
. Hemisférios
Cerebrais
Através
de uma proeminente ranhura chamada fissura longitudinal, o cérebro é dividido
em duas metades chamadas hemisférios. Na base desta fissura encontra-se um
espesso feixe de fibras nervosas, chamado corpo caloso, o qual fornece um elo
de comunicação entre os hemisférios. O hemisfério esquerdo controla a metade
direita do corpo e vice-versa, em razão de um cruzamento de fibras nervosas no
bulbo.
Ainda
que os hemisférios direito e esquerdo pareçam ser uma imagem em espelho um do
outro, existe uma importante distinção funcional entre eles. Na maioria das
pessoas, por exemplo, as áreas que controlam a fala estão localizadas no
hemisfério esquerdo, enquanto áreas que governam percepções espaciais residem
no hemisfério direito.
Começando
do topo do hemisfério, as regiões superiores das áreas motoras e sensoriais
controlam as partes inferiores do corpo.
• Sistema Nervoso Central e Nervos periféricos
Todos os movimentos que realizamos as sensações de frio,
calor, dor, ações involuntárias como a digestão ou a filtração do sangue nos rins
dependem da informação que entra e sai de nosso cérebro, que funciona como um
supercomputador.
O cérebro recebe e envia informações através de um grande cabo
com fios alojados na coluna vertebral que formam a medula espinhal.
Este cabo maior se forma a partir de um conjunto de fios
menores que entram e saem do cérebro para chegar a todos os órgãos e para o
sistema nervoso periférico. Cada nervo periférico é formado por centenas de
fibras conforme um cabo de condução elétrica. Como funciona a informação no
cérebro?
Em geral cada uma das metades do cérebro controla a metade
contrária do corpo. Isso ocorre para o movimento das extremidades (braços e pernas)
ou para algumas percepções como a dor, a sensação de frio e calor. Entretanto,
ao longo da evolução se compreendeu que algumas das funções não percorrem o
mesmo caminho. Entre elas a função da visão. A informação que vem dos nervos oculares não é completamente
contrária. Apenas uma parte.
• A Retina
e Mácula
A retina é a parte mais nobre do olho humano. Ela é formada
por células nervosas que se organizam em camadas e que filtram , ordenam e transmitem ao cérebro a informação
do que estamos vendo . A mácula é a zona de maior definição da retina. É
a área capaz de distinguir detalhes
necessários para se ler, reconhecer rostos, colorir um desenho dentro dos
limites lineares. O restante da retina não consegue distinguir detalhes tão
precisos, mas em contraponto aquilo que nos é necessário como visualizar um Ônibus
que passa. Um avião no céu...
• Movimentos oculares conjugados e
dominância ocular
Quando nos deparamos com uma criança com estrabismo, a
explicação mais simplista para compreender como ocorre a visão nela é a metáfora de que os olhos são como duas rodas
de um carro, porém não interligadas pelo mesmo eixo. Os olhos podem mover-se de modo completamente
independentes. Outra comparação é como os olhos de um camaleão, que se movem
individualmente.
Então, numa visão
normal, quando queremos ver algo com detalhe, a mácula de um de nossos olhos se
centra nesse objeto ( olho dominante) e com milésimos de segundos o outro olho
faz o mesmo.
PS* No artigo Lateralidade Cruzada parte 2 abordarei sobre as dificuldades de
aprendizagem que incorre na aprendizagem a partir da lateralidade cruzada.
Flávia Bartelli
Psicopedagoga.
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